terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Restelo

- E agora...
O Plano de Urbanização de Groer, e a Encosta da Ajuda.
Terrenos de sobra. Mas poucas verbas para continuar com os bairros económicos.
Bastara ao Estad o invocar "Interesse Público", e passara imediatamente a dono de umas tantas quintas. Contudo, aos detentores de muito capital ninguem exigiria o mesmo desapossamento, sem que se desconfiasse de comunismo.
Então, moradias de luxo.
Uma faixa da encosta que se transformaria em zona excelsa. Compradores de tom, rigorosamente seleccionados. E com o lucro das parcelas asseguraria a continuação do Plano.
A opinião de Groer era favorável.
E não seria a Câmara a ir contra. Não o engenheiro Rodrigues de carvalho.
- ...chamamos-lhe Bairro do Restelo. E é para começar ainda hoje, ao serão.
Duarte Pacheco convocara, para essa mesma noite, o arquitecto Faria da Costa.

A Cova do Lagarto
Filomena Marona Beja
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Castelo de Bode

Escureceu.
Arrancou um gerador, e acenderam-se algumas lâmpadas.
- Remedeio, Senhor Ministro. A instalação está pronta, à espera que a corrente cá chegue.
A ligação à rede dependia de se aumentar a potência que era fornecida à Cidade. Mas, enquanto durasse a escassez de carvão, nem pensar.
- Mesmo evitar cortes vai ser difícil.
- Falta-nos a barragem... Não é assim?
Uma grande barragem, no rio Zêzere. Maurice Ginoux viera de Grenoble para os primeiros estudos do Castelo de Bode.

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Filomena Marona Beja
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Escolas primárias

Oçamentos rigorosos e a cumprir. Era de riscar os excesso de conforto, não fossem as crianças habituarem-se ao que não tinham em casa. E atenção: Nada de rapazes misturados com raparigas.
Os rapazes de um lado, as raparigas de outro. Jogo do dragão em que só pelos olhos os corpos simétricos se tocavam. Desejavam, empurrando.
Duarte encorajara a solução de Baltazar de Castro: aproximar os edifícios. Geminar. Tinham-se feito ensaios em Braga, em Ílhavo. Os custos eram aceitáveis.
No entanto, Raúl Lino mantinha-se irredutível. Rogério de Azevedo teimoso. "...muito susceptíveis, um e outro."
- MAs isto tem de se resolver.

Adiante.

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Filomena Marona Beja
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Construção civil

A construção civil reduzida a pequenos empreiteiros. Um tio, pai, filhos. Os rapazes a deixar a escola, se fossem precisos para dar serventia.
Falta de pregos, cimento, vidro. Ganância de sobra.
- ...não se sai do mesmo sítio. Porcaria!
Nem o Cottinelli.
Por que não lhe acabaria ele o Liceu de Santo Amaro? Liceu Dom João de Castro, conseguido no auge de 1938.
Era urgente passar do velho casarão de aluguer, à Junqueira, para os espaços criados de raiz. Salas de desenho enormes. Cavaletes, caixas de luz. Estiradores onde começariam a treinar os rapazes, e algumas raparigas, que se preparavam para seguir Arquitectura.
E Duarte que ambicionava o curso de Arquitectura no Instituto Superior Técnico, queria-os bem preparados.
Mandara buscar as fotografias aéreas tiradas por Groer. Ele próprio assinalara a extensão de terreno a reservar no Alto de Santo Amaro. "Exproprie-se à Casa Vale-Flor."
Depois, o impulso criativo de José Ângelo.
Entregara-lhe o projecto no princípio de 1941. Já era para estar pronto.

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Filomena Marona Beja
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