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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Abóbora

Começava aperguntar-se se aquele seria o trabalho certo para si. Era muito bom pensar que se podia ajudar as pessoas a resolver os seus problemas, mas esses problemas podiam ser de partir o coração. O caso Malatsi fora esquisito. Esperara que Mma Malatsi ficasse transtornada quando lhe mostrara a prova de que o marido fora comido por um crocodilo, mas ela não parecera nada perturbada. Que tinha ela dito? Mas tenho imenso que fazer. Que coisa tão extraordinária e insensível para alguém dizer quando se acaba de perder o marido. Será que ela não lhe dava mais valor do que isso?
Mma Ramotsw deteve-se, a colher semi-mergulhada no guisado que fervia em lume brando. Quando as pessoas ficavam assim imperturbáveis, Mma Christie esperava que o leitor desconfiasse. O que teria Mma Christie pensado se tivesse visto a fria reacção de Mma Malatsi, a sua virtual indiferença? Teria pensado: Esta mulher matou o marido! É por isso que fica imperturbável perante a notícia da sua morte. Ela sabia desde o início que ele estava morto!
Mas então e o crocodilo e o baptismo, e os outros pecadores? Não, ela tinha de estar inocente. Talvez lhe desejasse a morte, e então a sua prece fora atendida pelo crocodilo. Será que isso nos fazia criminosos aos olhos de Deus, se então acontecesse alguma coisa? Deus saberia, percebem, que desejáramos a morte de alguém porque não se pode ter segredos para Deus. todos sabiam isso.
Deteve-se. Era altura de tirar a abóbora da panelae de a comer. Em última análise, era isso que solucionava estes grandes problemas da vida. Podia pensar-se e tornar a pensar e não chegar a lado algum, mas tinha de se continuar a comer a abóbora. Isso fazia-nos voltar à terra. Isso dáva-nos uma razão para prosseguir. Abóbora.

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
A Ler por aí... no Botswana

Abrir um negócio (3)

Abriram o escritório numa segunda-feira. Mma Ramotswe sentou-se à sua secretária e Mma Makutsi à dela, por trás da máquina de escrever. Olhou para Mma Ramotswe e sorriu ainda mais abertamente.
- Estou pronta para o trabalho - disse ela. - Estou pronta para começar.
- Hummm - fez Mma Ramotswe. - Ainda estamos no princípio. Acabamos de abrir. Temos de esperar que apareça um cliente.

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
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Abrir um negócio (2)

Havia muito que fazer. Foi chamado um mestre de obras para substituir o estuque danificado e reparar o telhado de zinco e, de novo perante a oferta de pagamento à vista, isso foi executado numa semana. Depois Mma Ramotswe deitou-se ao trabalho de pintar, e depressa concluiu o exterior em ocre e o interior em branco. Comprou cortinas amarelas novas para as janelas e, num invulgar momento de extravagância, deixou-se tentar por um conjunto de escritório com duas secretárias e duas cadeiras, novinho em folha. O seu amigo, Mr. J. L. B. Matekoni, proprietário da Tlokweng Road Speedy Motors, trouxe-lhe uma velha máquina de escrever excedente das suas próprias necessidades e que trabalhava muito bem, e com isso o escritório ficou pronto a abrir - logo que ela arranjasse uma secretária.

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
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Abrir um negócio

Mma Ramotswe tinha pensado que não seri fácil abrir uma agência de detectives. As pessoas cometiam sempre o erro de pensar que abrir um negócio era simples e depois descobriam que havia todo o tipo de problemas escondidos e exigências imprevistas. Ouvira falar de pessoas que tinham aberto os seus negócios e aguentado quatro ou cinco semanas até ficarem sem dinheiro ou reservas, ou ambos. Era sempre mais difícil do que se tinha pensado.

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Calau

Imagem obtida no site do Zoo de Lisboa

Molope

Imagem obtida bo site Hlasek.

Mahalapye

Mahalapye era uma vila de cabanas dispersas feitas de tijolos castanhos de lama seca ao sol e alguns edifícios com telhado de zinco. Estes pertenciam ao Governo ou aos Caminhos-de-Ferro e, para nós, representavam um luxo distante e inatingível. Havia uma escola gerida por um velho pastor anglicano e uma mulher branca com o rosto meio arruinado pelo sol. Ambos falavam setswana, o que era invulgar, mas ensinavam-nos em inglês, insistindo, sob pena de chicotadas, que deixássemos a nossa própria língua lá fora no recreio.
Do outro lado da estrada começava a planície que se estendia até ao Calahari. Era uma região incaracterística, juncada de acácias baixas em cujos ramos se empoleiravam os calaus e os irrequietos molopes com as suas longas penas da cauda a arrastar. Era um mundo que parecia não ter fim, e isso, penso eu, era o que tornava a África tão diferente nesses tempos. Não tinha fim. Um homem podia caminhar, ou cavalgar, eternamente, e nunca chegar a lado nenhum.

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Pessoas vulgares

Nós não esquecemos, pensou Mma Ramotswe. As nossas cabeças podem ser pequenas, mas estão cheias de recordações, como o céu pode por vezes estar cheio de abelhas fervilhantes, milhares e milhares de recordações, de cheiros, de lugares, de pequenas coisas que nos aconteceram e que voltam, inesperadamente, para nos recordar de quem somos. E quem sou eu? Sou Precious Ramotswe, cidadã do Botsuana, filha d eObed Ramotswe que morreu por ter sido mineiro e já não conseguir respirar. Não existe registo da sua vida; quem é que anota as vidas das pessoas vulgares?

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Marketing

Mandou pintar uma tabuleta com cores vivas que colocou depois ao fundo de Lobatse Road, nos limites da cidade, a apontar para o pequeno prédio que tinha comprado: AGÊNCIA Nº1 DE MULHERES DETECTIVES. PARA TODOS OS ASSUNTOS E INVESTIGAÇÕES CONFIDENCIAIS. SATISFAÇÃO GARANTIDA PARA TODAS AS PARTES. SOB GERÊNCIA PESSOAL.
A instalação da sua agência despertou considerável interesse público. Houve uma entrevista na Rádio Botsuana, em que ela achou ter sido pressionada algo grosseiramente para revelar as suas qualificações, e um artigo bastante mais satisfatório no Notícias do Botswana, que chamava a atenção para o facto de ela ser a única detective particular do país. Este artigo foi recortado, copiado e colocado bem à vista num pequeno quadro ao lado da porta de entrada da agência.

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
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domingo, 6 de julho de 2008

Uma boa mulher

Ela era uma boa detective e uma boa mulher. Uma boa mulher num país bom, poderia dizer-se. Amava o seu país, o Botsuana, que é um lugar de paz, e amava a África, apesar de todas as suas provações. "Não me envergonho que me chamem patriota africana", dizia Mma Ramotswe. "Amo todos os povos que Deus fez, mas sei como amar especialmente os povos que vivem neste sítio. São o meu povo, os meus irmãos e as minhas irmãs. É meu dever ajudá-los a solucionar os mistérios existentes nas suas vidas. É o que fui chamada a fazer."

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
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Uma agência de detectives no Botsuana

Mma Ramotswe tinha uma agência de detectives em África, no sopé dos montes Kgale. O total dos seus haveres consistia numa pequena carrinha branca, duas secretárias, duas cadeiras, um telefone e uma velha máquina de escrever. Havia também uma chaleira, onde Mma Ramotswe – a única detective particular do Botsuana – fazia chá de rooibos. E três canecas – uma para ela, uma para a sua secretária, e outra para o cliente. De que mais precisa realmente uma agência de detectives? As agências de detectives assentam na intuição e inteligência humanas, e Mma Ramotswe possuía ambas em abundância. É claro que nenhum inventário as incluiria.

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Alexander McCall Smith
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