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sexta-feira, 5 de março de 2010

Homem prático

Agora me ocorre que tanto o Eça como o Balzac se sentiriam os mais felizes dos homens, nos tempos de hoje, diante de um computador, interpolando, transpondo, recorrendo linhas, trocando capítulos, E nós, leitores, nunca saberíamos por que caminhos eles andaram e se perderam antes de alcançarem a definitiva forma, se existe tal coisa, Ora, ora, o que conta éo resultado, não adianta nada conhecer os tenteios e hesitações de Camões e Dante, O senhor doutor é um homem prático, moderno, já está a viver no século vinte e dois,

História do Cerco de Lisboa
José Saramago
A Ler por aí... no Castelo de São Jorge, em Lisboa

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Restelo

- E agora...
O Plano de Urbanização de Groer, e a Encosta da Ajuda.
Terrenos de sobra. Mas poucas verbas para continuar com os bairros económicos.
Bastara ao Estad o invocar "Interesse Público", e passara imediatamente a dono de umas tantas quintas. Contudo, aos detentores de muito capital ninguem exigiria o mesmo desapossamento, sem que se desconfiasse de comunismo.
Então, moradias de luxo.
Uma faixa da encosta que se transformaria em zona excelsa. Compradores de tom, rigorosamente seleccionados. E com o lucro das parcelas asseguraria a continuação do Plano.
A opinião de Groer era favorável.
E não seria a Câmara a ir contra. Não o engenheiro Rodrigues de carvalho.
- ...chamamos-lhe Bairro do Restelo. E é para começar ainda hoje, ao serão.
Duarte Pacheco convocara, para essa mesma noite, o arquitecto Faria da Costa.

A Cova do Lagarto
Filomena Marona Beja
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Castelo de Bode

Escureceu.
Arrancou um gerador, e acenderam-se algumas lâmpadas.
- Remedeio, Senhor Ministro. A instalação está pronta, à espera que a corrente cá chegue.
A ligação à rede dependia de se aumentar a potência que era fornecida à Cidade. Mas, enquanto durasse a escassez de carvão, nem pensar.
- Mesmo evitar cortes vai ser difícil.
- Falta-nos a barragem... Não é assim?
Uma grande barragem, no rio Zêzere. Maurice Ginoux viera de Grenoble para os primeiros estudos do Castelo de Bode.

A Cova do Lagarto
Filomena Marona Beja
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Escolas primárias

Oçamentos rigorosos e a cumprir. Era de riscar os excesso de conforto, não fossem as crianças habituarem-se ao que não tinham em casa. E atenção: Nada de rapazes misturados com raparigas.
Os rapazes de um lado, as raparigas de outro. Jogo do dragão em que só pelos olhos os corpos simétricos se tocavam. Desejavam, empurrando.
Duarte encorajara a solução de Baltazar de Castro: aproximar os edifícios. Geminar. Tinham-se feito ensaios em Braga, em Ílhavo. Os custos eram aceitáveis.
No entanto, Raúl Lino mantinha-se irredutível. Rogério de Azevedo teimoso. "...muito susceptíveis, um e outro."
- MAs isto tem de se resolver.

Adiante.

A Cova do Lagarto
Filomena Marona Beja
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Construção civil

A construção civil reduzida a pequenos empreiteiros. Um tio, pai, filhos. Os rapazes a deixar a escola, se fossem precisos para dar serventia.
Falta de pregos, cimento, vidro. Ganância de sobra.
- ...não se sai do mesmo sítio. Porcaria!
Nem o Cottinelli.
Por que não lhe acabaria ele o Liceu de Santo Amaro? Liceu Dom João de Castro, conseguido no auge de 1938.
Era urgente passar do velho casarão de aluguer, à Junqueira, para os espaços criados de raiz. Salas de desenho enormes. Cavaletes, caixas de luz. Estiradores onde começariam a treinar os rapazes, e algumas raparigas, que se preparavam para seguir Arquitectura.
E Duarte que ambicionava o curso de Arquitectura no Instituto Superior Técnico, queria-os bem preparados.
Mandara buscar as fotografias aéreas tiradas por Groer. Ele próprio assinalara a extensão de terreno a reservar no Alto de Santo Amaro. "Exproprie-se à Casa Vale-Flor."
Depois, o impulso criativo de José Ângelo.
Entregara-lhe o projecto no princípio de 1941. Já era para estar pronto.

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Filomena Marona Beja
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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Igreja de Nossa Senhora de Fátima

- Isso não é moderno demais, para o Cerejeira?
- O gajo gosta... vais ver.
- Como é que tu sabes onde hás-de pôr a pia da água benta, se?...
Se não era católico. Nem crente.
- Tenho um frade que me aconselha.

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Filomena Marona Beja
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Expansão

- Venâncio... Ligue ao arquitrecto Keil do Amaral. ele que venha ao Ministério, amanhã. Marque cedo, logo às...
- Vossa Excelência não estará lembrado, mas amanhã é domingo... Domingo de Páscoa.
- Não importa!
Como não lhe importavam os quadros dramáticos da área a despovoar. Os pastos, as nascentes. Gente que viria a ser expulsa de casa.
"Maldito seja!"
"Porque não põe o campo de aviação debaixo da janela dele?"
"Na Alameda DomAfonso Henriques!"

Carta Corográfica do Concelho de Lisboa. Com a sua própria lapiseira, Duarte riscou um perímetro fora da cidade: Alaúde - Pote d'Água - Azinhaga das Chitas - Musgueira...
Logo de seguida, a topografia, a geologia. Amostras, levantamentos.
E não se podendo esperar por resultados de demandas, as pistas rasoiraram os muros das quintas. Galgaram talhões de alface e couve-penca.
Contava-se, mais tarde, que já havia máquinas a betumar e ainda por lá andavam galinhas.

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Filomena Marona Beja
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Avenida Álvares Cabral

Cheio de sol, aquele prédio acabado de construir. Entrava em todas as divisões da casa, chegava ao fundo dos quartos.
Nunca ali batia a sombra das casas fronteiriças. Estariam a un vinte metros e eram mais baixas. Do terceiro andar não se via o edifício da Garagem Monumental. Nem o Jardim-Cinema. Dir-se-ia que não existiam.
Existiam. Eram modernos.
"Uma bela avenida" - elogio de quase todos.
- Repare-se como está diferente - respondia Duarte.

Janeiro de 1938. Duarte recém-chegado à presidência da Câmara Municipal de Lisboa.
A Avenida Pedro Álvares Cabral reduzia-se aos bocados de passeio diante do Liceu e do Jardim-Escola.
E ele estava ao corrente. É de crer que lhe tenham chegado protestos, enquanto fora Ministro da Educação.
Ele próprio protestara. Exigira o fornecimento regular de água às duas escolas. Acabara com o acesso dos estudantes por um passadiço que ia dar à travessa de Santa Quitéria.
- Uma porcaria!
Imundice.
Cascas, talos, vísceras e penas deitados pelas portas das cozinhas. Ninguém recolhia.
Moscas. Ratazanas.
Do gabinete do Campo de Santana, Duarte reclamava:
- Não haverá na Câmara uma carroça que se mande lá?
Ninguém que obrigasse alguns mariolas sem emprego a varrer o meio da rua? A levar o lixo para os aterros?
O que fazia um pelourinho diante dos Paços do Concelho, se a Cidade não conseguia ajustar o povo?
- Deixe-se de prepotências, senhor Ministro - responderam-lhe. - E fale do que sabe.

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Filomena Marona Beja
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Linha

Dir-se-ia que a estrada era o rio. O mar.
Cimento. A marginal era uma grande extensão de cimento, progredindo sobre um dos patamares da ravina. Vários quilómetros de muros de suporte. De vedações em pedra.
Abaixo, antes do leito do rio, o caminho-de-ferro.
Lisboa - Estoril. A única linha eléctrica em todo o País. Bastante imperfeita, segundo se dizia. Logo que chegara às Obras Públicas, em 1932, Duarte mandara corrigir o percurso entre o Bom Sucesso e Alcântara.
Entretanto, a continuação até Cascais.

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Filomena Marona Beja
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Estalagem da Boa Viagem

De súbito, a ideia da estalagem. Ali, à curva da Boa Viagem, no sítio da moradia de Teixeira Gomes.
"Belo sítio..."
Um pavilhão construido quase sobre o mar. Salas envidraçadas, uma varanda envolvendo-as. Conforto ao anoitecer dos sábados de Inverno. Um jardim. A pérgola e os concertos de ar livre, nas tardes de domingo.
E quem lhe projectaria a estalagem?

A Cova do Lagarto
Filomena Marona Beja
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