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sexta-feira, 10 de julho de 2009

O charme do velho mundo

- O charme do velho mundo - disse Vasco, içando-se do balcão. - O Arménio não pode comprar isso. Oh, estou quilómetros à frente desse rapaz e ele nem sequer sabe disso. Eu viajei, sabes, e compreendo a mentalidade moderna. Na América, se uma coisa tem cem anos, é venerada. Eu sei porque é que os turistas vão vir.
Teresa acenou que sim com a cabeça, sem saber o que ele tinha dito. As palavras de António ao almoço surgiam aqui e ali, e o seu sentido era o mais claro possível. "Eu estou preparado, sabes." Ela mantinha o rosto voltado para baixo. Mãe Misericordiosa, os sujos mecanísmos de tudo aquilo!
- Ums pratos antiquados - disse Vasco beijando as pontas dos dedos. - Isso vai trazê-los a voar. Sabes o que eu fiz hoje? Uma salada de orelha e rabo de porco, tal como a minha mãe costumava fazer, com um bocadinho de cebola crua, alho, coentros, azeite e vinagre. Tão saborosa que nem a quero vender. Provei-a e disse: "Então, vasco, será justo? Será justo atacar o jovem Arménio com uma arma secreta como esta?" - Rui-se e tossiu e segurou o peito como se ele pudesse fugir a voar.

Alentejo Blue
Monica Ali
A Ler por aí... no Litoral Alentejano














Foto retirada do blog Elvira's Bistrot

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Café da Internet sem Internet

Uma borboleta, azul-pólvora, brilhou por instantes no gargalo da sua garrafa, no tampo da mesa, nas costas de uma cadeira, cintilando e girando como uma heroína a fazer uma fuga elaborada. Teresa viu-a mergulhar e bater as asas pela sala for a até ao bar onde se desviou da fila de velhas costas curvadas e pescoços barbeados e caiu de repente no chão.
"Escuta", disse-lhe Teresa em silêncio, "eu sei o que tu sentes".
O café estava aberto há três horas e já parecia que ali estava desde sempre. Apesar de a porta e a única janela se manterem abertas, o ar estava pesado como pomada e infestado de peixe. As paredes eram de um belo tom de verde mas nelas estava pendurado o calendário do ano passado e um estúpido quadro de uma tourada. Era um café da Internet sem Internet e ninguém esperava mais do que isso. As pessoas ocupavam os seus lugares, os velhos no bar, os mais novos nas mesas, como se nenhum outro rumo fosse possível e esta noção, esta inevitabilidade pesada, pesasse sobre ela e a fizesse bocejar.

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Monica Ali
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