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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jogos Olímpicos de Estocolmo

Vinte e cinco quilómetros: o Francisco cai de novo.
Levanta-se de novo. A voz do locutor é grave e torturada dentro do silêncio absoluto da cozinha. O Hermes e a Íris começam a notar que se passa algo que não conseguem compreender totalmente. Nas ruas de Lisboa, devem estar a acontecer muitas coisas que ninguem consegue imaginar. Nas ruas onde o Francisco passou a correr tantas vezes, devem estar a acontecer muitas coisas. O locutor pergunta-se quanto tempo mais conseguirá o Francisco aguentar. Arrasta os pés no chão. Portugal. Trinta quilómetros. O Francisco cai exausto. O seu corpo deitado é rodeado por pessoas. As minhas filhas, Simão e a minha mulher levantam-se das cadeiras e correm para a telefonia, como se pudessem entrar dentro dela.

Cemitério de Pianos
José Luís Peixoto
A Ler por aí... em Benfica, Lisboa

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Três horas

Soam as três horas, a exposição termina, a multidão refaz-se... É uma nova mudança, às três. Chega de repente à Avenida Névski a Primavera: cobre-se toda de funcionários de uniformes verdes. Os famintos conselheiros titulares, áulicos e outros estugam o passo o mais que podem. Os jovens registadores de colégio, os secretários provinciais e de colégio correm a aproveitar a ocasião de passearem pela Avenida Névski com o ar de quem não passou nada seis horas no serviço.

Ler por aí... em Agosto 2009

Hora bendita

Nesta hora bendita, entre as duas e as três da tarde, a que poderemos chamar a capital em movimento na Avenida Névski, acontece a principal exposição de todas as melhores criações humanas. Este exibe uma sobrecasaca catita com pele de castor da melhor qualidade; aquele, um maravilhosonariz grego; um terceiro ostenta excelentes suíças; uma quarta, uma par de olhos bonitos e um chapéu espantoso; um quinto, um anel de talismã no elegante dedo mindinho; uma sexta, o pezinho no seu sapatinho encantador; um sétimo, uma gravata surpreendente; um oitavo, um bigode de pasmar. Soam as três horas, a exposição termina, a multidão refaz-se...

Ler por aí... em Agosto 2009

domingo, 26 de julho de 2009

Meio-dia

Ao meio-dia fazem as suas incursões na Avenida Névski os perceptores de todas as nacionalidades com os seus educandos de colarinhos de cambraia. Os Johns ingleses e os Kock franceses andam de braço dado com os pupilos entregues aos seus cuidados paternais e, com uma solenidade decente, explicam-lhes que as tabuletas sobre as entradas das lojas foram concebidas para, por meio delas, se saber o que se encontra dentro das respectivas lojas. As perceptoras - misses pálidas, eslavas rosadas - caminham majestosamente atrás das suas garotas airosas e serigaitas, dando ordens - que leantem um pouco mais o ombro, que endireitem as costas; em suma, a esta hora, a Avenida Névski é uma avenida pedagógica.

Ler por aí... em Agosto

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ao amanhecer

Ao longo de um único dia, quanta veloz fantasmagoria se desenrola aqui! Quantas mudanças acontecem em vinte e quatro horas! Começemos pelo amanhecer, quando toda a Petersburgo cheira a pão quente acabado de cozer, quando se enche de velhas com os seus vestidos e capas esfarrapadas, em incursões pelas igrejas e contra o transeunte compassivo. A esta hora, a Avenida Névski está vazia: os corpulentos proprietários das lojas e seus caixeiros ainda dormem metidos nas suas camisas de noite holandesas ou ensaboam a bochecha nobre e tomam café; os pedintes são aos bandos às portas das pastelarias, onde o Ganimedes sonolento, que ainda ontem voava como uma mosca servindo chocolate, sai à rua com a vassoura na mão e sem gravata e lher atira bolos e restos de petiscos.

Ler por aí... em Agosto 2009

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Pessoas vulgares

Nós não esquecemos, pensou Mma Ramotswe. As nossas cabeças podem ser pequenas, mas estão cheias de recordações, como o céu pode por vezes estar cheio de abelhas fervilhantes, milhares e milhares de recordações, de cheiros, de lugares, de pequenas coisas que nos aconteceram e que voltam, inesperadamente, para nos recordar de quem somos. E quem sou eu? Sou Precious Ramotswe, cidadã do Botsuana, filha d eObed Ramotswe que morreu por ter sido mineiro e já não conseguir respirar. Não existe registo da sua vida; quem é que anota as vidas das pessoas vulgares?

A Agência Nº1 de Mulheres Detectives
Alexander McCall Smith
A Ler por aí... no Botsuana