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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Avenida Álvares Cabral

Cheio de sol, aquele prédio acabado de construir. Entrava em todas as divisões da casa, chegava ao fundo dos quartos.
Nunca ali batia a sombra das casas fronteiriças. Estariam a un vinte metros e eram mais baixas. Do terceiro andar não se via o edifício da Garagem Monumental. Nem o Jardim-Cinema. Dir-se-ia que não existiam.
Existiam. Eram modernos.
"Uma bela avenida" - elogio de quase todos.
- Repare-se como está diferente - respondia Duarte.

Janeiro de 1938. Duarte recém-chegado à presidência da Câmara Municipal de Lisboa.
A Avenida Pedro Álvares Cabral reduzia-se aos bocados de passeio diante do Liceu e do Jardim-Escola.
E ele estava ao corrente. É de crer que lhe tenham chegado protestos, enquanto fora Ministro da Educação.
Ele próprio protestara. Exigira o fornecimento regular de água às duas escolas. Acabara com o acesso dos estudantes por um passadiço que ia dar à travessa de Santa Quitéria.
- Uma porcaria!
Imundice.
Cascas, talos, vísceras e penas deitados pelas portas das cozinhas. Ninguém recolhia.
Moscas. Ratazanas.
Do gabinete do Campo de Santana, Duarte reclamava:
- Não haverá na Câmara uma carroça que se mande lá?
Ninguém que obrigasse alguns mariolas sem emprego a varrer o meio da rua? A levar o lixo para os aterros?
O que fazia um pelourinho diante dos Paços do Concelho, se a Cidade não conseguia ajustar o povo?
- Deixe-se de prepotências, senhor Ministro - responderam-lhe. - E fale do que sabe.

A Cova do Lagarto
Filomena Marona Beja
A Ler por aí... em Lisboa (Alameda) e outros lugares